Incentivos Fiscais e Financeiros: Catalisadores da Transformação Digital e da Competitividade Portuguesa
Como instrumentos estratégicos do PRR e do Portugal 2030 estão a modernizar empresas e setores tradicionais
Por Cláudia Martins, Diretora de Gestão de Projetos da Multisector
Transição digital – imperativo estratégico
A transição digital tornou-se um dos principais motores da competitividade económica. Para as empresas portuguesas, especialmente pequenas e médias, investir em tecnologia, automação e inteligência artificial deixou de ser opcional. É uma condição de sobrevivência num mercado global cada vez mais exigente.
Apesar do enorme potencial, a transformação digital continua a ser um desafio, especialmente para setores com margens reduzidas ou modelos de negócio consolidados há décadas. Introduzir novas tecnologias exige investimentos elevados, formação de recursos humanos, infraestruturas tecnológicas e mudança cultural dentro das organizações.
É aqui que os incentivos fiscais e financeiros, em particular os disponibilizados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e pelo Portugal 2030 (PT 2030), funcionam como catalisadores estratégicos da modernização empresarial, reduzindo riscos financeiros e estimulando a inovação colaborativa.
PRR e Portugal 2030: pilares da modernização
O PRR português é um dos mais ambiciosos planos públicos alguma vez lançados em Portugal, estruturado em três dimensões: Resiliência, Transição Climática e Transição Digital.
No eixo da Resiliência, inserido na componente Capacitação e Inovação Empresarial, o IFIC – Instrumento Financeiro para a Inovação e Competitividade dispõe de 300 milhões de euros destinados a reforçar a competitividade das empresas. Este instrumento visa promover a adoção de tecnologias avançadas, a capacitação dos recursos humanos e a modernização dos processos produtivos, através de linhas específicas que incentivam a digitalização e a produtividade com Inteligência Artificial nas PME, a reindustrialização da economia nacional com foco na inovação produtiva e na I&D, e o desenvolvimento da Economia de Defesa e Segurança, apoiando o investimento em bens e serviços de dupla utilização (civil e militar), incluindo a internacionalização das PME.
O Portugal 2030 complementa este esforço, com foco na inovação produtiva, qualificação, internacionalização e sustentabilidade. Os programas regionais e setoriais oferecem condições atrativas de cofinanciamento — em alguns casos a fundo perdido, até 70% do investimento — permitindo às empresas planear o seu crescimento tecnológico de forma estruturada e previsível.
A importância estratégica dos incentivos
Ao reduzirem o custo efetivo da inovação e aumentam a competitividade estrutural das empresas, os incentivos fiscais e financeiros desempenham um papel duplo:
- Fiscal: mecanismos como o SIFIDE ou deduções à coleta de IRC permitem reinvestir lucros em investigação e desenvolvimento.
- Financeiro: subvenções diretas, linhas de crédito bonificadas e apoios à contratação de recursos qualificados facilitam o acesso à tecnologia e à transformação digital.
Esta conjugação corrige falhas de mercado, reduzindo o risco de investimento em tecnologia, suprindo a escassez de competências digitais e facilitando o financiamento às PME. O resultado é um círculo virtuoso: mais investimento gera mais produtividade, exportações e emprego qualificado, fortalecendo a competitividade nacional.
Vine & Wine Portugal: um caso emblemático
O projeto Vine & Wine Portugal, uma das Agendas Mobilizadoras do PRR, liderado pela Granvinhos, Lda. e coordenado pela Multisector, reúne mais de 45 entidades — empresas vitivinícolas, tecnológicas, universidades e associações setoriais — para digitalizar e modernizar o setor vitivinícola português.
Com um investimento global superior a 85 milhões de euros dos quais 47 milhões apoiados pelo PRR, o projeto aposta na automatização, sustentabilidade e valorização de dados para aumentar a produtividade, reduzir o impacto ambiental e reforçar a presença internacional dos vinhos portugueses.
“O Vine & Wine demonstra que, com colaboração entre empresas e entidades tecnológicas e apoio de incentivos públicos, até setores tradicionais podem reinventar-se e ganhar competitividade real”, afirma Cláudia Martins, Diretora de Gestão de Projetos da Multisector.
A Multisector, consultora portuguesa especializada em inovação e transformação empresarial, desempenha um papel central enquanto coordenadora da Agenda Vine & Wine.“Coordenar um projeto desta dimensão não é apenas gerir fundos; é garantir que a inovação se traduz em resultados concretos e duradouros para as empresas e para a economia”, explica [representante da Multisector].
Multisector: transformar incentivos em resultados
A complexidade dos programas nacionais e europeus torna essencial o apoio de consultoras especializadas. A Multisector combina experiência em diagnóstico de oportunidades, elaboração de candidaturas e gestão de projetos financiados, ajudando as empresas a maximizar o valor dos incentivos.
Além disso, presta suporte na integração de soluções de inteligência artificial, automação e análise de dados, permitindo que organizações evoluam para modelos digitais e inteligentes, um fator crítico para a competitividade futura.
Programas em aberto e oportunidades emergentes (2025-2026)
Os incentivos disponíveis para os próximos anos são vastos e estratégicos:
- Instrumento Financeiro para a Competitividade e Inovação – IA para PME (adoção de soluções de inteligência artificial); Reindustralizar (projetos de inovação produtiva e investigação e Desenvolvimento Tecnológico) e Economia de Defesa e Segurança (projetos ligados à defesa e segurança – uso civil e militar).
- Programas de Internacionalização e Qualificação das PME — capacitação digital e expansão para mercados externos.
- Sistema de Incentivos de Base territorial – Investimentos de pequena dimensão de micro e pequenas empresas que contribuam para o emprego, modernização resiliência das economias locais.
- Inovação Produtiva e I&D Empresarial — apoios regionais para transformação digital e industrial.
Estas oportunidades permitem que empresas de todos os setores se modernizem, exportem e criem valor através da tecnologia.
Conclusão: transformar incentivos em impacto
A economia portuguesa vive um momento decisivo. A janela de oportunidade criada pelo PRR e Portugal 2030 exige planeamento, conhecimento técnico e visão estratégica.
Empresas que investirem em digitalização, automação e competências, e que recorrerem a consultoria especializada, estarão melhor posicionadas para crescer num mercado global em rápida mutação.
Casos como o Vine & Wine Portugal mostram que, com o enquadramento certo, até setores históricos podem reinventar-se. Com o apoio da Multisector, os incentivos deixam de ser burocracia e tornam-se verdadeiros catalisadores de competitividade, inovação e futuro.
