TRABALHAR MENOS, PRODUZIR MAIS

28 Outubro 2021

TRABALHAR MENOS, PRODUZIR MAIS

A equação pode parecer errada, mas vários estudos têm provado que são os países onde a carga horária é mais baixa que apresentam índices de produtividade superiores. Mas como se explica que trabalhar menos horas pode ser sinónimo de produzir mais? A resposta é simples: um trabalhador será, tão ou mais eficiente, se estiver feliz, ou seja, se estiver motivado. Para estar motivado é necessário gostar do que faz e conseguir gerir bem o seu tempo de trabalho com a sua vida pessoal. Os estudos indicam que ser mais produtivo, está diretamente relacionado com foco, com a melhor utilização de recursos, com liberdade e, sobretudo, com muito sentido de responsabilidade. Quem ganha? Todos! As empresas e os trabalhadores.

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É aqui que temos que esquecer o padrão! Não temos de ser todos iguais! Temos, isso sim, de apresentar resultados, agir para criar fatores de diferenciação e ser responsáveis. E eis a palavra de ordem: responsabilidade. Com esta máxima, no futuro, o mundo do trabalho estará assente em prazos de entrega e não em horários fixos e rigidamente vigiados. O que importa é: se o trabalho tem que ser feito, tem mesmo de ser feito.

Vejamos os bons exemplos. Quando tomamos contacto direto com as realidades de outros países do espaço europeu, percebemos, que por Copenhaga, e Berlim e outras cidades existe vida e movimento nas cidades a partir das 4 horas da tarde, o que nos leva a pensar, e bem, que o trabalho já está feito e que é tempo de lazer. Portanto, rigor não rima com obrigação, ser mais produtivo não vem com imposição e a qualidade do trabalho produzido não depende do local em que é feito.

É por isso que, de acordo com um relatório da Robert Walters intitulado “The Future of Work after COVID-19”, 47% dos trabalhadores portugueses são mais produtivos no teletrabalho e 76% estão satisfeitos com a transição para empregos remotos decorrente da pandemia. Na verdade, apenas 7% desejam voltar ao escritório em tempo integral. O mesmo estudo concluiu que de acordo com 32% dos entrevistados na Europa, o número ideal de dias para se trabalhar no escritório é de apenas dois. Os motivos apontados são poder realizar reuniões presenciais (52%), maior foco no bem-estar (35%), trabalho mais colaborativo (33%) e maior interação social com os colegas (32%). Já 22% dos entrevistados preferem não ir ao escritório e manter-se 100% em teletrabalho e 32% rejeitariam uma oferta de emprego, caso tivessem de trabalhar mais de 80% da semana presencialmente no escritório. As deslocações (80%), o horário flexível (68%) e um melhor balanço entre vida pessoal e profissional (63%) são os principais motivos indicados pelos profissionais para a preferência pelo teletrabalho. A produtividade também é apontada como uma das principais mais-valias do trabalho não presencial, já que 60% dos profissionais inquiridos afirmou que foram mais produtivos a trabalhar em casa do que no escritório e o principal motivo é a distração que o ambiente de escritório pode trazer (67%).

Também o fenómeno da “sexta à tarde” ou a “semana de quatro dias” ganha adeptos, obviamente, entre os trabalhadores mas também entre os agentes económicos, com muitas empresas a darem passos firmes em matéria de flexibilização. É certo que ainda há um caminho longo a percorrer, mas o mercado está a borbulhar em nome de mais equilíbrio com a vida pessoal.

As transformações já se vivem em Portugal com a publicação do Livro Verde sobre o Futuro do trabalho e a reforma na lei laboral dá também sinais de futuro. O livro aborda o direito à desconexão do trabalhador em teletrabalho, a questão da flexibilidade, dos nómadas digitais, a conciliação entre a vida pessoal e profissional, o incentivo à partilha das licenças parentais.

A eventual redução do período normal de trabalho também entra nessas guidelines já que os testes no estrangeiro resultaram em ganhos de produtividade.

Se o aumento da qualidade de vida está no centro destas novas tendências do mundo do trabalho, a qualidade da nossa casa comum – o planeta Terra – não pode ser esquecida. E o fim da obrigatoriedade do teletrabalho, apontado por vários especialistas como precoce, está a contribuir para o aumento da poluição para níveis superiores ao pré pandemia. Nas grandes cidades, o pára-arranca, voltou. Voltaram as filas intermináveis e o trânsito significa ruído, poluição do ar, baixa a produtividade, aumentam os gastos para as famílias, diminui a utilização dos transportes públicos, aumentam os níveis de stress. No final, todos perdem. Perde o ambiente que dá sinais todos os dias dos danos cada vez mais irreversíveis, perdem as empresas com atrasos e baixa de produtividade e perdem os colaboradores porque têm mais custos e menores níveis de motivação.

Mas será que em Portugal as empresas estão preparadas para estas mudanças? Vai depender caso a caso, já que os modelos alternativos são impossíveis de generalizar. E vai depender muito da negociação com os parceiros sociais.

Certo é que trabalhar a partir de qualquer parte do mundo, ir ao escritório sem controlo de horários, ter a sexta à tarde livre, alternar entre teletrabalho e trabalho no escritório ou alterar a semana de trabalho para apenas quatro dias ganha força, sobretudo, em profissões ligadas às tecnologias de informação e as vantagens estão à vista! A mudança não é, portanto, irrealista!

Dá que pensar.

Cláudia Martins
Gestão de Projetos