VEÍCULOS ELÉTRICOS VS SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

20 Fevereiro 2020

VEÍCULOS ELÉTRICOS VS SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Nas últimas décadas o setor dos transportes tem vindo a ser apontado como um dos principais geradores de emissões de gases (CO2) para a atmosfera que contribuem para o aumento da pegada de carbono do planeta [1].

De modo a reduzir as emissões geradas pelos veículos usados neste setor, a indústria automóvel está apostar na conceção de veículos equipados com motor elétrico, substituindo-se assim, os combustíveis fósseis, por baterias de lítio. Contudo, a produção da matéria-prima necessária para a construção destas baterias tem levantado várias questões sobre se é efetivamente uma opção “amiga do ambiente”.

Será o Veículo Elétrico a melhor solução para uma melhor sustentabilidade ambiental?

Os veículos elétricos usam energia armazenada em baterias para alimentar o motor que será responsável pela sua locomoção, sendo estas maioritariamente compostas por iões de Lítio.

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De acordo com o Relatório do grupo de trabalho “LÍTIO” levado a cabo por Cristina Lourenço (DGEG), Machado Leite (LNEG), Mário Guedes (EDM), Francelina Pinto (ANIET) e Luís Martins (Assimagra) [2], a obtenção do metal, de onde podem ser extraídos os iões de lítio, pode ser feita através de vários processos de extração, sendo os mais representativos o resultante das salmouras (lítio em solução) e o da extração da espodumena hospedada em formações rochosas, representando cerca de 95% do Lítio disponibilizado no mercado global.

A extração espodumena hospedada em formações rochosas tem início com as operações de mineração, seguindo-se o processamento mineralúrgico, com etapas de tratamento térmico a temperatura elevada, com ou sem adição de reagentes, com vista à transformação em formas mais reativas. Deste modo, dá-se assim a transformação química do lítio contido no mineral numa forma solúvel em meio aquoso, permitindo então a sua extração, separação e purificação por operações hidrometalúrgicas até á produção do composto de lítio final.

No caso das salmouras, o lítio já se encontra dissolvido em água, pelo que todas as etapas anteriores são desnecessárias, procedendo-se a operações de concentração (vulgarmente usando energia solar) até obter um sal rico em lítio, seguindo-se depois a separação e purificação.

Estes processos extrativos são feitos a céu aberto apresentando por isso graves riscos para o ambiente e para os ecossistemas, como foi evidenciado pela organização ambiental “Quercus”  [3], referente às intenções manifestadas recentemente em Portugal de extrair lítio a partir dos jazigos existentes, alertando estes para os impactos que se evidenciarão:

→ Na Paisagem natural;

→ Nos ecossistemas naturais (habitats naturais), devido aos processos de extração, tratamento e transporte do minério;

→ Na vegetação e nas populações vizinhas das zonas de mineração, devido à libertação de grandes quantidades de partículas com dispersão num raio alargado;

→ Sobre os sistemas aquíferos e linhas de água superficiais.

De acordo com o IVL (Instituto Sueco de Pesquisa Ambiental) [4], a produção das baterias de lítio corresponde a emissões de 150 a 200 kg de dióxido de carbono por cada kWh de energia que a bateria irá ser capaz de gerar (considerando que a energia usada na produção tem entre 50-70% de origem em combustíveis fósseis). Isto significa que um automóvel com uma bateria de 100 kWh já enviou entre 15 a 20 toneladas de CO2 para a atmosfera antes de ser utilizado pela primeira vez. Este valor representa as emissões de CO2 de um automóvel ligeiro com um motor de combustão (considerando emissões de 120 g de CO2/km) ao fim 125 mil quilómetros. (analisando apenas do ponto de vista da libertação de CO2, não estão aqui a ser considerados outros gases e partículas poluentes que aumentam a pegada ambiental).

Assim a mobilidade através de veículos elétricos não é uma solução que por si só resolva a questão da sustentabilidade ambiental em torno da mobilidade, pois é necessário considerar o impacto ecológico que esta alternativa também comporta para o ambiente.

É por isso importante continuar a apostar em fontes de energia renováveis e limpas que possam suportar esta nova forma de mobilidade. Mas também é necessário pensar o paradigma da mobilidade urbana e promover políticas que incentivem o uso racional dos recursos, mais do que incentivarem apenas a simples troca de veículos, que ainda não estão em fim de vida, por alternativas cujo benefício ambiental ainda não está totalmente assegurado.

Nuno Costa
Consultor em I&D

Bibliografia

[1] M. G. GE e J. Friedrich, “4 Charts Explain Greenhouse Gas Emissions by Countries and Sectors,” 06 Fevereiro 2020. [Online]. Available: https://www.wri.org/blog/2020/02/greenhouse-gas-emissions-by-country-sector.

[2] D. n. 1. d. S. o. S. d. E. d. Energia, “Relatório do grupo de trabalho “LÍTIO”,” Diario da Republica, 2ª Serie, 2016.

[3] QUERCUS, “Os Riscos da extração de Lítio,” [Online]. Available: https://alertalitio.quercus.pt/os-riscos-da-extracao-do-litio/.

[4] IVL, “New report highlights climate footprint of electric car battery production,” 21 Junho 2017. [Online]. Available: https://www.ivl.se/english/startpage/top-menu/pressroom/press-releases/press-releases—arkiv/2017-06-21-new-report-highlights-climate-footprint-of-electric-car-battery-production.html.